No livro de
Jó no capítulo três encontramos Jó amaldiçoando seu nascimento, obviamente um
caso bíblico de depressão.
Jó se lamenta.
Ele rompe o silêncio com uma lamentação fortemente emocional. Ele expressa o
mesmo tipo de depressão que tomou conta do Hemã o ezraita no Salmo 88, e também
do profeta Jeremias (Jr 20.14-15), cujos amargos lamentos, reproduzem os de Jó.
Jó chegou a um estado tão insuportável
que amaldiçoou o dia em que nasceu.
Sabemos bem
sobre Jó e sobre Jeremias, mas quem seria Hemã o ezraita?
Segundo as
Escrituras: O salmista HEMÃ era filho de Joel e neto do profeta Samuel, da
família dos Coatitas. Ele foi cantor e cimbaleiro levita durante o reinado de
Davi, e posteriormente de Salomão (I Crônicas 6.33; 15.17-19; II Crônicas
5.11,12). Foi pai de 14 filhos e três filhas, e liderava a sua família no canto
na Casa do Senhor (Templo Sagrado). Tanto ele quanto Asafe e Etã Jedutum
estavam sob o comando direto do rei Davi, "o rei poeta"- (I Crônicas
25.1-6). Hemã compôs o Salmo 88, que tem 18 versículos. Ele também era
conhecido como Hemã, "o ezraíta". Em hebraico, o termo “ezraíta” tem
o significado de: “NATIVO”.
O Salmo 88
talvez seja a mais sombria de todas as lamentações do Saltério. O clamor
angustiante do salmista pode ser ouvido do começo ao fim, uma vez que a sua dor
o acompanha desde a juventude (v15) até o momento. Grande parte das lamentações
transforma - se em confiança e louvor no final, mas esse não é o caso aqui. O
único raio de esperança que emana desse salmo é o fato de que o salmista orava
e de que ele se referia a Deus como “minha salvação” (v1). Os cristãos não estão isentos dos sofrimentos
deste mundo. Na verdade, a vida do cristão muitas vezes inclui aflição e
dor. Nossa esperança não está em
escaparmos do sofrimento, mas no significado que inunda o nosso sofrimento por
causa da angústia experimentada pelo nosso Senhor Jesus Cristo.
Alguns dos
fatores que causam a depressão nas pessoas são: tristeza, angústia e desesperança.
Isso ocorre no meio cristão, quando o que motiva a pessoa na busca pelo conhecimento do Evangelho
do Senhor Jesus Cristo; é o medo de passar pelo sofrimento, dor e tristeza — o
cristianismo não é um lugar isolado que protege as pessoas dos males que surgem
normalmente na vida das pessoas — todos nós, passamos por algum sofrimento, ou
ainda passaremos. O cristianismo não oferece isenção em relação ao sofrimento —
o cristianismo propõe esperança de vida eterna — fazendo com que os seguidores
do Cristo da cruz, sejam pessoas transformadas que vivem como Cristo viveu. O
grande problema é evangelizar as pessoas oferecendo para elas a “teologia da glória”
combatida fortemente por Martinho Lutero onde o mesmo enfatiza a teologia da
cruz.
Os teólogos
da “glória”, afirma Lutero, acham que os caminhos de Deus são “claramente perceptíveis”.
Assim, os amigos de Jó acreditavam que se tudo corre de vento em popa é porque
estamos vivendo corretamente e Deus está feliz conosco. Mas se as coisas vão de
mal é porque nosso viver não está correto, e Deus se afastou de nós. Eles achavam
fácil discernir os propósitos e os planos de Deus. Todavia os sofrimentos de Jó
eram bastante misteriosos, e os propósitos de Deus não foram revelados a Jó, e
praticamente nenhum deles foi revelado aos leitores do livro. Mas a agonia e o sofrimento de Jó resultaram
nas mais profundas revelações da natureza de Deus na Bíblia e, de fato, na
literatura em geral, além de na transformação do caráter de Jó.
Da mesma
forma, os líderes religiosos da época de Jesus aguardavam um Messias gentil,
fácil de ser compreendido e que derrotaria o poderio romano, levando Israel à independência
política. Um Messias fraco, sofredor e crucificado não fazia sentido para eles.
As pessoas que observavam Jesus morrendo na cruz não tinham ideia de que
testemunhavam o maior ato de salvação da história. Será que as pessoas junto à
cruz “percebiam claramente” os caminhos de Deus? Não, mesmo estando cara a cara
com um milagre da graça. Elas enxergavam apenas escuridão e sofrimento, e as
categorias da razão humana não acreditavam que Deus possa trabalhar em tais
coisas e por meio delas. Assim, o povo mandou Jesus descer da cruz, zombando: “Ele
salvou os outros e não consegue salvar a si mesmo” (Mt 27.42).
O que não
perceberam foi que Ele podia salvar os outros unicamente porque não salvou a si
mesmo.
Foi
justamente por intermédio da fraqueza e do sofrimento que Deus nos salvou e revelou
da maneira mais intensa possível, as infinitas profundezas de Sua graça e de
Seu amor por nós. Porque, na verdade, na cruz estava a sabedoria infinita: em
um único ato, a justa exigência da lei foi cumprida e o perdão dos infratores
foi garantido. Naquele momento, o amor e a justiça de Deus foram totalmente
satisfeitos. Esse Messias viera para
morrer de modo a pôr fim à morte. Somente pela fraqueza e pelo sofrimento o
pecado poderia ser expiado — foi a única maneira de destruir o mal sem destruir
a nós.
Para
Lutero, o clamor de Jesus na cruz — “...Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?” (Mt 27.46) — é “a frase mais maravilhosa da Bíblia inteira”.
Laércio
Otone
REFERÊNCIAS:
Bíblia de Estudo de Genebra 2° ed, pg 754
KELLER, Timothy – Caminhando com Deus em meio à dor e ao
sofrimento – São Paulo: Vida Nova, 2016, pg 64, 66