O primeiro século da era cristã não passou sem o derramamento
de muito sangue dos santos. Jesus Cristo, o líder de todos os cristãos,
não foi poupado, sendo por isso que é justo que seus membros andem
no mesmo caminho.
É um fato que João Batista morreu antes de Cristo, mas foi depois
da morte de Cristo que o fogo da perseguição ficou extremamente violento,
consumindo quase todos os seus amados apóstolos e amigos…
Estamos cedendo a Jesus Cristo, o Filho de Deus, o primeiro lugar
entre os mártires da Nova Aliança – não em termos cronológicos, pois
João Batista morreu primeiro, mas em termos de merecimento, pois
ele é o Cabeça de todos os santos mártires. É através dele que todos
recebem a salvação.
Aproximadamente três mil, novecentos e setenta anos depois da
criação do mundo, no quadragésimo segundo ano do reinado de Augusto,
o segundo imperador romano, tempo em que no mundo todo
havia paz, Jesus Cristo nasceu de uma virgem, Maria, no povoadinho
de Belém. Ele é o unigênito Filho eterno de Deus, o Verbo através do
qual tudo foi criado. Leia Mateus 16:16; João 1:14; Romanos 9:5.
Crucificação de Jesus Cristo
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A sua entrada no mundo, bem como a sua vida e morte, foram
carregadas de miséria, problemas e aflições. Podemos muito bem
afirmar que nasceu e foi criado na sombra da cruz! Ele andou na
sombra da cruz e finalmente morreu na cruz.
Quanto a seu nascimento, ele foi concebido pelo Espírito Santo.
Nasceu em grande pobreza, pois não nasceu em sua cidade materna,
Nazaré, mas numa viagem a Belém. Foi por isso que não se encontrou
um lugar preparado para recebê-lo. Não havia lugar na hospedaria,
sendo preciso nascer num estábulo. Maria o envolveu em panos e
deitou-o numa manjedoura.
Sua infância não foi fácil. Com menos de dois anos de idade, Herodes
resolveu matá-lo de qualquer jeito. Foi preciso que seu padrastro,
José, e sua mãe, Maria, fugissem para o Egito, onde permaneceram até
a morte de Herodes. Durante este tempo foram mortos, em seu lugar,
em Belém e suas redondezas, todas as crianças com menos de dois
anos, sempre com a esperança de que uma delas fosse Jesus. Houve
grande lamentação naquela região. Jeremias há muitos anos profetizara
este acontecimento: “Ouviu-se um clamor em Ramá, lamentação e
choro amargo: Raquel chora a seus filhos, e não se deixa consolar
por eles, porque já não existem” (Jeremias 31:15. Leia Mateus 2:18, o
cumprimento desta profecia).
Quanto à sua vida entre os homens, ele foi encarado como um
entusiasta vagante, pelo fato de não possuir casa própria. Ele mesmo
reclama disso: “As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o
Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça” (Lucas 9:58). Enquanto
isso, o povo o acusava de ser amigo dos publicanos e pecadores, de
ser “comilão e bebedor de vinho”, e que ele tinha demônio.
O fim da sua vida era dos mais lamentáveis. Foi neste dia que,
figurativamente, todas as fontes do grande abismo romperam,
levando-o consigo, e os dilúvios do sofrimento se derramaram sobre
ele, tragando-o.
Primeiramente ele foi traído por seu discípulo, Judas, sendo
vendido para os sacerdotes e os fariseus, por trinta peças de prata.
Leia Mateus 26:14-16. Ele foi entregue às autoridades, rispidamente
interrogado, e mandado no nome do Deus vivo, que declarasse se
era o Cristo, o Filho de Deus. Foi só confessar que isto era verdade
e eles começaram a clamar: “Ele é réu de morte!”
Então cuspiram em seu rosto e bateram nele. Outros cobriam seu
rosto e mandavam: “Profetiza-nos, ó Cristo, quem foi que te bateu?”
O Século I
16 O Espelho dos Mártires
(Mateus 26:68). Isto continuou até de madrugada, quando Jesus foi
entregue a Pôncio Pilatos, o juiz, para receber a sentença de morte.
Leia Mateus 27:1-2.
Pilatos perguntou: “Que acusação trazeis contra este homem?”
(João 18:29). Eles responderam: “Se este não fosse malfeitor, não o
entregaríamos a ti” (v. 30). Pilatos respondeu: “Levai-o vós, e julgai-o
segundo a vossa lei” (v. 31), pois compreendia que Jesus fora preso
por questão de inveja. Eles disseram: “Encontramos este homem
pervertendo a nossa nação, proibindo dar tributo a César, dizendo
ser o Cristo, o Rei” (Lucas 23:2). Disseram também: “Nós temos uma
lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque se fez filho de Deus”
(João 19:7).
Pilatos levou Jesus para o pretório novamente e fez-lhe mais
perguntas. Não achando crime algum nele, procurou um meio de
soltá-lo. Numa tentativa de comover os judeus, mandou (contra a
própria consciência) açoitar Jesus. Permitiu que colocassem nele uma
coroa de espinhos, que zombassem dele e o maltratassem. Disse à
multidão: “Eis o homem!” Mas de nada adiantou. Clamavam cada
vez mais: “Crucifica-o! Crucifica-o! Se soltares a este, não és amigo
de César”.
Finalmente, quando Pilatos viu que os judeus não iriam mudar de
ideia, e ainda com o medo de que o acusassem perante César, em torno
das oito horas (segundo os nossos cálculos) ele voltou ao pretório,
onde entregou Jesus à morte.
Novamente os soldados começaram a zombar de Jesus. Colocaram
nele a cruz, para que a levasse ao monte Calvário. Chegados ao
monte, tiraram suas vestes e o cravaram na cruz, erguendo-o entre as
cruzes de dois malfeitores que também foram crucificados. Segundo
os nossos cálculos, isto aconteceu por volta das nove horas da manhã.
Deram-lhe para beber, vinagre misturado com fel e repartiram suas
vestes. Enquanto isso, zombavam dele constantemente, até de repente
tudo ficar escuro. Estas trevas continuaram durante mais ou menos três
horas. Aí o Senhor clamou bem alto: “Elí, Elí, lemá sabactâni?” Isto é:
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mateus 27:46).
Com isto Jesus inclinou a cabeça e morreu, depois de seis horas
de sofrimento intenso na cruz, das nove horas da manhã até às três
horas da tarde.
A terra começou a tremer. Grandes rochas se despedaçaram. As
sepulturas se abriram. O véu do templo rasgou-se e muitos milagres
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foram vistos, provando que aquele que acabara de morrer não era um
homem comum, mas sim, o Filho do Deus vivo.
Este foi o fim, não de um mártir, mas do Cabeça de todos os
santos mártires, através do qual todos eles encontraram a salvação.
(O Espelho dos Mártires Ed. Menonita)