sábado, 24 de junho de 2017

APRENDENDO A CAMINHAR

                                            
                                                          E a nossa glória?

Não devemos desperdiçar nosso sofrimento. De acordo com a Bíblia, um dos propósitos e aplicações do sofrimento diz respeito à glória de Deus. Não há nada que revele, comunique e transmita a glória de Deus tanto quanto o sofrimento. Obviamente é uma glória perfeita e, assim, não pode ser aumentada. Mas pode, como o salmista repete tantas vezes, ser “engrandecida”. Se Deus for tratado como Deus durante o sofrimento, então o sofrimento revela e apresenta Deus em toda sua grandeza.
Mas Paulo também afirma que o sofrimento prepara uma glória para nós.  “Pois nossa tribulação leve e passageira produz para nós uma glória incomparável...” (2 Co 4.17). Então perguntamos: “Como o sofrimento nos beneficia?”. Antes de responder, temos de considerar o que a Bíblia ensina sobre o que se chama hoje de autoajuda. Existe um princípio no cerne da vida cristã que é revelado por duas declarações famosas do Senhor Jesus Cristo:  
               
  Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos;
Mateus 5:6
Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á.
Mateus 10.39

Na primeira declaração, Jesus está ensinando: “Feliz é aquele que busca não a felicidade, mas a justiça”. A felicidade é subproduto do desejo de ter algo mais do que felicidade: ter um relacionamento de retidão com Deus e o próximo. Se Deus é o bem inegociável em nossa vida, a felicidade é um bônus. Se, no entanto, tudo que almejarmos for a felicidade pessoal, acabamos ficando sem nenhum dos dois.  Encontramos o mesmo princípio na segunda declaração de Jesus.  Se estivermos dispostos a perder a vida por amor a ele — dispostos a abrir mão da segurança pessoal, do conforto e da satisfação para obedecer e seguir a Jesus —, acabaremos nos encontrando.
Descobriremos quem somos de verdade em Cristo e encontraremos a paz.
No entanto, se tentarmos alcançar conforto e satisfação pessoal sem que nossa vida em Deus esteja centralizada em Cristo, acabaremos com uma terrível falta de autoconhecimento e vazio interior.
Isso não poderia ser mais oposto à nossa cultura ocidental de eloquente individualismo. E se aplica diretamente ao modo de os cristãos lidarem com o sofrimento. Como já vimos, devemos confiar em Deus porque Ele merece, é digno disso, e não porque seremos beneficiados. Se amamos e obedecemos a Deus por quem Ele é, e não por interesse próprio, vamos nos tornar pessoas fortes, nobres e sábias. Se desistirmos de buscar a nós mesmos e buscarmos a Deus, encontraremos tanto um quanto o outro. “Mira o céu, e a terra virá como bônus. Mira [somente] a terra, e não receberá nenhum dos dois.”   

Como esse princípio de Jesus funciona? Nós nos tornamos sábios quando vemos e abraçamos Deus como Ele é, porque isso nos põe em contato com a realidade. Da mesma forma que acender as luzes numa sala escura permite que você caminhe sem tropeçar nas coisas, enxergar a justiça, a grandeza, a soberania, a sabedoria e o amor de Deus impede que você cambaleie pela vida com amargura, orgulho, ansiedade e desânimo. Se buscarmos não nosso próprio benefício, mas a glória de Deus,  alcançaremos, de modo paradoxal, o desenvolvimento de nossa glória, ou seja, de nosso caráter, humildade, esperança, amor, alegria e paz.

O sofrimento, como veremos, pode levar a crescimento pessoal, instrução e transformação, contudo, jamais poderemos acreditar que ele seja o principal instrumento para nos tornarmos pessoas melhores. Esse ponto de vista leva ao masoquismo, à apreciação da dor, já que só nos achamos virtuosos quando estamos sofrendo.  Mesmo sem essa perspectiva, o sofrimento nos predispõe à autoabsorção.  Se ele for encarado como algo voltado principalmente para nós e nosso crescimento, vai nos sufocar de verdade. Em vez disso, precisamos olhar para o sofrimento — sejam quais forem as causas imediatas — principalmente como um meio de conhecermos mais a Deus, como uma porta para servirmos, nos assemelharmos a ele e chegarmos, como nunca antes, mais perto dEle.
Somente quando fizermos da glória de Deus a coisa mais importante do sofrimento, alcançaremos nossa própria glória. E as tristezas e dificuldades também podem levar a isso. Somos alertados a não desperdiçar nosso sofrimento, mas sim a crescer por meio deles em graça e glória.

(KELLER – Timothy, Caminhando Com Deus em Meio a Dor e ao Sofrimento, pg 205-207)   

Editado por:
Laércio Otone

 Salto – SP,  24/06/17

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