quinta-feira, 16 de julho de 2015

TEOLOGIA DA PROSPERIDADE

                                        “TEOLOGIA DA PROSPERIDADE “
                                                                       Por: Laércio Otone

O termo teologia não poderia ser colocado nessa desgraça, que é a teologia da prosperidade. Essa doutrina enfatiza uma vida abastada, regada ao luxo, isenta de tribulações e perseguições, e que, seus adeptos, são sempre pessoas “bem sucedidas”.  Como disse meu amigo pastor Jesiel Freitas: “Só existe uma teologia, que é a teologia bíblica”.
Não podemos denominar de teologia, uma doutrina tão herege. Uma doutrina que está levando muitos ao fundo do poço espiritual.  Pessoas que para atingir os fins que almejam, não estão se preocupando com os meios, ou seja, ainda que preciso for, “atropelo quem entrar na minha frente”. Essa, é a visão de quem frequenta uma denominação que apregoa esse tipo de doutrina.
A teologia da prosperidade se alastrou por muitas Igrejas evangélicas, principalmente nos Estados Unidos e no Brasil, atraindo uma enorme quantidade de pessoas. Todavia, essa teologia é contrária a doutrina bíblica, e muitas vezes as pessoas acabam se  aproximando de Deus por motivos alheios à genuína fé. Acontece também que muitas pessoas acabam se decepcionando com o Evangelho, e até mesmo com o próprio Deus, quando as promessas dos propagadores dessa teologia não se cumprem , e muitas  pessoas acabam confundindo a mensagem da prosperidade com o próprio Evangelho de Cristo, rejeitando, assim, o próprio Evangelho. Por isso, é importante compreendermos como nasceu, como se desenvolveu e o que ensina essa teologia para podermos confrontá-la com a Palavra de Deus
A HISTÓRIA DA TEOLOGIA DA PROSPERIDADE
A teologia da prosperidade também é conhecida como “confissão positiva”, “palavra da fé”, “movimento da fé”, e “evangelho da saúde e da prosperidade”.  Esse movimento teve origem nos Estados Unidos. Através do evangelista Essek William  Kenyon (1867-1948). Kenyon se converteu na adolescência e com 25 anos foi estudar no Emerson College, em Boston, conhecido como um centro do “movimento transcendental” , que deu origem a vários movimentos heréticos. Uma das fortes influências que Kenyon recebeu nesse período foi de Mary Baker Eddy, a fundadora da “Ciência cristã”.
Um dos principais ensinamentos desse movimento transcendental, também conhecido como “metafísico” (além do mundo físico/natural), é que a verdadeira realidade está no mundo espiritual.  A dimensão espiritual, todavia, controla o mundo terreno.  Mas as pessoas também podem controlar o mundo espiritual, e conseguem isso através do correto uso da mente. Desta forma, controlando o mundo espiritual é possível às pessoas que assimilarem o correto uso da mente controlarem, consequentemente, o mundo material.
Kenyon acredita que essas ideias eram compatíveis com o cristianismo. Ainda mais, acreditava que poderiam aperfeiçoá-lo. Em função disso, por exemplo, ele cunhou expressões como: “o que eu confesso, eu possuo!”.
Kenyon passou a elaborar esses ensinamentos e a divulgá-los através de pregações nas Igrejas evangélicas tradicionais e pentecostais. Também foi um dos primeiros a usar o rádio como estratégia de evangelismo e mateve o programa “Igreja no ar” para divulgar seus ensinamentos hereges. Também puublicou vários livros contendo essas heresias.
Mesmo Kenyon sendo o precursor do movimento da prosperidade, o grande divulgador das suas ideias foi Kenneth Erwin Hagin (1917-2003). Hagin é tido por muitos como o verdadeiros pai desse movimento. Depois de padecer com uma grave doença, da qual obteve a cura em meio a grandes experiências de fé, dentre as quais se incluem visitas ao céu e ao inferno, Hagin se converteu. Começou seu ministério como pregador batista, e com 20 anos se tornou pastor da Igreja Assembléia de Deus.  
Aos 32 anos teve contato com pregadores dos movimentos de cura, e em 1962 fundou seu próprio ministério associado ao movimento da prosperidade.  Hagin divulgou seus ensinamentos através de seu ministério, de programa de rádio, fitas cassetes e livros. Hagin dizia ter tido muitas experiências espirituais, dentre as quais, contava oito visões de Jesus Cristo. Os ensinos de Hagin influenciaram vários pregadores norte-americanos, que logo se tornaram grandes divulgadores desse movimento. A partir dos anos 80, várias denominações pentecostais nos Estados Unidos se declararam contra os desvios e os excessos desse movimento, dentre as quais as Assembléias de Deus e do Evangelho quadrangular.
Esse movimento chega ao Brasil já com status de neopentecostal. Um dos primeiros difusores desse movimento no Brasil foi Rex Humbard. A Associação de homens de Negócios do Evangelho Pleno promoveu algumas conferências para propagar o movimento estre os empresários evangélicos. Nas primeiras organizações do movimento encontraram-se a “Igreja do Verbo da Vida”e o “Seminário Verbo da Vida” (Guarulhos), a “Comunidade Rema” (Morro Grande) e a “Igreja Verbo Vivo” (Belo Horizonte). R.R. Soares foi responsável pela publicação da maior parte dos livros de Hagin no Brasil. Desde então as Igrejas brasileiras sofreram uma verdadeira invasão dos ensinos do movimento da prosperidade, através de pregações, programas de rádio, de televisão, livros, fitas cassetes,CDs e apostilas.
OS ENSINAMENTOS DO MOVIMENTO DA PROSPERIDADE NO BRASIL
Os ensinamentos do movimento da prosperidade se resumem basicamente em três, que versam em torno da impossibilidade do sofrimento para os crentes, da riqueza material e da saúde perfeita como consequência da fé.
ANALISAREMOS, PORTANTO, ESSES TRÊS ENSINAMENTOS PRINCIPAIS DESSA DOUTRINA HEREGE
1)      O SOFRIMENTO COMO FALTA DE FÉ:
Os adeptos da teologia da prosperidade ensinam que o sofrimento significa falta de fé. Desta forma, se alguém sofre, é porque ainda não se converteu, e se um cristão sofre é porque não tem fé suficiênte. O cristianismo, ao contrário, nunca promoveu uma vida alheia a dificuldades e sofrimentos. Jesus disse aos seus discípulos: “Tenho-vos dito isto, para que em mim tenhais paz; no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (João 16:33) . Essas palavras do Senhor Jesus servem também para nós.
Jesus não nos promete a ausência de aflições, mas vai nos dar ânimo para enfrentarmos os sofrimentos.
Os sofrimentos podem até cumprir um propósito de Deus na vida do seu povo. Deus pode empregar sofrimentos para:
a)      Disciplinar seu povo: “Ainda não resististes até ao sangue, combatendo contra o pecado.
E já vos esquecestes da exortação que argumenta convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor, E não desmaies quando por ele fores repreendido;
Porque o Senhor corrige o que ama,E açoita a qualquer que recebe por filho” (Hebreus 12:4-6).
b)      O crescimento do seu povo: “Amados, não estranheis a ardente prova que vem sobre vós para vos tentar, como se coisa estranha vos acontecesse;
Mas alegrai-vos no fato de serdes participantes das aflições de Cristo, para que também na revelação da sua glória vos regozijeis e alegreis” (1 Pedro 4:12,13); E, tendo anunciado o evangelho naquela cidade e feito muitos discípulos, voltaram para Listra, e Icônio e Antioquia,

Confirmando os ânimos dos discípulos, exortando-os a permanecer na fé, pois que por muitas tribulações nos importa entrar no reino de Deus” (Atos 14:21,22).

2)      A RIQUEZA MATERIAL COMO SINAL DE FÉ
A teologia da prosperidade ensina que os filhos do Rei não podem ser pobres. Portanto, a prosperidade financeira é um direito do cristão e deve ser alcançada por meio da fé. Essa mensagem promete riqueza fácil, o que muitas pessoas estão buscando. Além disso, corre-se o grande perigo de se colocar as riquezas materiais em primeiro lugar, de forma que as pessoas passam a buscar a Deus não por causa da salvação, mas por causa daquilo que Deus pode oferecer como bençãos materiais.  A Bíblia nos alerta em várias passagens sobre o perigo das riquezas. Por exemplo, o apóstolo Paulo adverte: Mas os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína.
Porque o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas dores (1 Timóteo 6:9,10).
Da mesma forma Jesus nos adverte que, ao buscarmos as riquezas, não estamos buscando a Deus: Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de odiar um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom (Lucas 16:13).
Em vez de nos incitar a buscar as riquezas, a Palavra de Deus nos exorta a buscarmos o Reino de Deus em primeiro lugar. ...”buscai pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).  O cristão verdadeiro aprende a viver em qualquer situação, seja de riqueza, seja de pobreza, e aprende, em qualquer situação que se encontrar, a confiar no Senhor e colocá-lo como seu maior bem.  Desta forma, aprendemos pela Bíblia que Deus não trata os pobres com desdém, nem diz que as pessoas que se encontram em pobreza por falta de fé  (Dt 15.11; Mc 14.7; Gl 2.10).
3)      A DOENÇA COMO FALTA DE FÉ
A teologia da prosperidade promete ainda a cura de qualquer enfermidade, desde que a pessoa tenha fé. Assim, qualquer tipo de doença é encarado como falta de fé. Isso é bastante complicado, principalmente no caso de pregadores e líderes evangélicos que são prontamente desqualificados quando apresentam qualquer enfermidade ou deficiência.
               Um dos textos mais usados pelos pregadores desses movimentos é o seguinte:  Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e moído por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is 53.5).
Segundo os adéptos desses movimentos, pelo fato de Cristo ter carregado todas as enfermidades, os verdadeiros cristãos não podem ficar doentes. Pura heresia! Isso contrasta com as próprias páginas da Bíblia Sagrada, que nos apresentam verdadeiros homens de Deus que tinham algumas enfermidades: Por exemplo:
a)      Eliseu: não foi curado de sua enfermidade (2 Reis 13.14-20).
b)      Paulo: mesmo que não possamos definir com clareza qual era seu “espinho na carne”, ele orou e pediu a Deus que o curasse, e não foi atendido (2 Co 12.7-10).
c)       Timóteo: o jovem pastor Timóteo tinha enfermidades estomacais ( 1 Tm 5.23; 2 Tm 4.20).
d)      Epafrodito: companheiro e ajudador de Paulo, adoeceu mortalmente (Fl 2.25-30).

Essas pessoas citadas eram verdadeiros homens de Deus, que, todavia, tiveram enfermidades das quais não foram curados. Certamente isso não quer dizer que Deus não realiza a cura de nenhuma enfermidade. O próprio ministério do Senhor Jesus caracterizou, dentre outras coisas, por curar várias doenças.
Jesus, ao ler a passagem do profeta Isaías sobre isso, disse que aquelas palavras se cumpririam nele: “O Espírito do Senhor é sobre mim, Pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados de coração,
A pregar liberdade aos cativos, E restauração da vista aos cegos, A pôr em liberdade os oprimidos, A anunciar o ano aceitável do Senhor (Lucas 4:18,19).
Mas, neste caso, observamos duas coisas nesses movimentos de cura e a Palavra de Deus: 1) em primeiro lugar, o propósito de Deus nem sempre é a cura.  O fato do Senhor Jesus ter sarado as nossas enfermidades significa que na ressurreição não teremos mais nenhuma enfermidade e nem mesmo a ameaça da morte ( Ap 21.4). Mas nesta vida, estaremos sujeitos às doenças; e mesmo alguém que porventura nunca tenha ficado doente, certamente morreu ou irá morrer um dia; 2) em segundo lugar, podemos perceber uma grande diferença nas atitudes do Senhor Jesus e dos apóstolos em relação aos propagadores desse movimento quando realizam curas. A diferença está na preocupação quanto à propaganda! Jesus, quando realizava uma cura, pedia que não se contasse a ninguém o feito realizado. Podemos ver isso em diversas passagens.
O motivo para tanto era o fato de que Jesus não queria que as pessoas o seguissem por causa dos seus feitos ou das curas, mas devido a uma fé sincera e desinteressada.  Ao contrário, os pregadores desse movimento fazem exaustivas  propagandas de seus feitos e acabam atraindo muitas pessoas em função dos milagres, e não por causa do amor de Deus. 

(Laércio Otone) 

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