segunda-feira, 13 de julho de 2015

Transformado ou Transtornado? Por: Fábio José Lima.


Companheiros de luta,

No post de hoje quero lhe convidar a fazer uma reflexão acerca de um sentimento horrível que está se tornando tão presente em nosso meio: a inveja. Para exemplificar minha reflexão, trago dois exemplos bem ilustrativos, um bíblico e um de nossa literatura brasileira. Convido você a me acompanhar nessa leitura e espero que possamos fazer uma análise de como estamos lidando com isso.
Preliminarmente, devemos ter em mente que a igreja, enquanto instituição composta por pessoas, é atacada diuturnamente pela influência maligna que impera no mundo. Não podemos esquecer, que enquanto membros do Corpo de Cristo, possuímos uma missão clara e específica, qual seja, sermos sal da terra e luz do mundo. Dentro dessa perspectiva, podemos dizer que a igreja deve influenciar as pessoas e não ser influenciada por aqueles que não conhecem a Verdade.
Na sociedade em que vivemos é visível o espírito de competição entre as pessoas. Em certos casos, essa competição chega a ser meio patológica, e isso não pode ser visto como aceitável. Não estou dizendo que ter um espírito competitivo seja algo ruim, não é isso! A competição, quando trabalhada adequadamente, é salutar e nos ajuda a crescer corretamente. O grande problema é a forma como se compete, se estamos usando as regras válidas de competição ou se estamos trapaceando.
Fazendo um parêntese: acho que deu pra perceber que estou usando a palavra competição de uma forma bem abrangente, pois, na prática, as pessoas competem entre si sem um prévio acordo, por esta razão, entendo que não podemos ficar presos ao sentido estrito da palavra competição.
Olhando a sociedade, mesmo sem um rigor técnico, podemos visualizar que existem pessoas que competem movidas por um sentimento de inveja. Tais pessoas ficam incomodadas com a felicidade do próximo, e isso faz com que elas passem a ter atitudes desonestas contra seus semelhantes, o que pode gerar consequências catastróficas.
A Palavra de Deus nos mostra bons exemplos de inveja, mas trarei um bem conhecido, que é o episódio daVinha de Nabote, que está registrado em 1 Reis 21, porém, transcreverei apenas os 16 primeiros versículos:

1 - E sucedeu depois destas coisas que, Nabote, o jizreelita, tinha uma vinha em Jizreel junto ao palácio de Acabe, rei de Samaria.
2 - Então Acabe falou a Nabote, dizendo: Dá-me a tua vinha, para que me sirva de horta, pois está vizinha ao lado da minha casa; e te darei por ela outra vinha melhor: ou, se for do teu agrado, dar-te-ei o seu valor em dinheiro.
3 - Porém Nabote disse a AcabeGuarde-me o Senhor de que eu te dê a herança de meus pais.
4 - Então Acabe veio desgostoso e indignado à sua casa, por causa da palavra que Nabote, o jizreelita, lhe falara, quando disse: Não te darei a herança de meus pais. E deitou-se na sua cama, e voltou o rosto, e não comeu pão.
5 - Porém, vindo a ele Jezabel, sua mulher, lhe disse: Que há, que está tão desgostoso o teu espírito, e não comes pão?
6 - E ele lhe disse: Porque falei a Nabote, o jizreelita, e lhe disse: Dá-me a tua vinha por dinheiro; ou, se te apraz, te darei outra vinha em seu lugar. Porém ele disse: Não te darei a minha vinha.
7 - Então Jezabel, sua mulher lhe disse: Governas tu agora no reino de Israel? Levanta-te, come pão, e alegre-se o teu coração; eu te darei a vinha de Nabote, o jizreelita.
8 - Então escreveu cartas em nome de Acabe, e as selou com o seu sinete; e mandou as cartas aos anciãos e aos nobres que havia na sua cidade e habitavam com Nabote.
9 - E escreveu nas cartas, dizendo: Apregoai um jejum, e ponde Nabote diante do povo.
10 - E ponde defronte dele dois filhos de Belial, que testemunhem contra ele, dizendo: Blasfemaste contra Deus e contra o rei; e trazei-o fora, e apedrejai-o para que morra.
11 - E os homens da sua cidade, os anciãos e os nobres que habitavam na sua cidade, fizeram como Jezabel lhes ordenara, conforme estava escrito nas cartas que lhes mandara.
12 - Apregoaram um jejum, e puseram a Nabote diante do povo.
13 - Então vieram dois homens, filhos de Belial, e puseram-se defronte dele; e os homens, filhos de Belial, testemunharam contra ele, contra Nabote, perante o povo, dizendo: Nabote blasfemou contra Deus e contra o rei. E o levaram para fora da cidade, e o apedrejaram, e morreu.
14 - Então mandaram dizer a Jezabel: Nabote foi apedrejado, e morreu.
15 - E sucedeu que, ouvindo Jezabel que já fora apedrejado Nabote, e morrera, disse a Acabe: Levanta-te, e possui a vinha de Nabote, o jizreelita, a qual te recusou dar por dinheiro; porque Nabote não vive, mas é morto.
16 - E sucedeu que, ouvindo Acabe, que Nabote já era morto, levantou-se para descer para a vinha de Nabote, o jizreelita, para tomar posse dela. (Almeida Corrigida e Revisada Fiel. Negritei e sublinhei)

Logicamente que deste texto podemos tirar várias lições, mas como estamos refletindo sobre a inveja, particularmente este sentimento como força motriz de uma espécie de competição, fica claro que o rei Acabe não tinha razão justificável para querer a vinha de Nabote para si. O desejo foi impróprio e a solução dada por sua esposa, Jezabel, foi pior ainda.
De certo que o rei queria a Vinha, mas diante da recusa de Nabote, que apresentou seus motivos, pois havia herdado de seus pais (v.3), o que sobrou ao rei foi ficar afligido. O sentimento pecaminoso nasce no coração de Jezabel, que o transmite ao rei, perceba aí que já temos uma espécie de “consórcio competitivo” com a finalidade de ter aquilo que não é seu e que não está à venda.
Daí pra frente, temos o desenrolar da história que passa pelo assassinato de Nabote e a apropriação da vinha por parte do rei Acabe.
Nossa literatura brasileira traz outro exemplo bem interessante na poesia de Patativa do Assaré:

“Seu moço, me escute uma triste verdade,
Que até dá vontade
Da gente chorar;
Escute quem foi que azarou a minha vida,
Nas terras querida
Do meu Ceará.
Eu era rendeiro do J. Veloso,
Um rico invejoso,
Malvado sem par,
Senhor de dinheiro e de léguas de terras,
De baixa e de serra,
Disponível para arrendar.
Eu, vendo as terras daquele ricaço,
Um certo pedaço
Com gosto arrendei,
Pois vi que o terreno para tudo convinha,
A terra só tinha
Madeira de lei.
Joguei-me deveras na serra fechada,
De foice Conrad,
Machado Collins
Jucá revirava, pau d’arco caía,
E a cobra fugia
Com medo de mim.
Depois de algum tempo, no dito baixio,
De carga de milho
Quebrei mais de cem.
Havia de tudo, melão, macaxeira,
E muita fruteira
Vingando também
De tudo o tributo correto eu pagava,
E sempre me achava
De bom a melhor.
Vivia contente, gostando da vida,
Com minha querida
Maria Loló.
Então, seu moço, fugiu a penúria,
Chegou a fartura
Me enchendo de fé;
Mas veio depois uma inveja danada,
A filha gerada
Do monstro Lusbel.
O J. Veloso, me vendo arranjado,
Ficou afobado,
Pegou a invejar,
Falando zangado, com raiva e com grito,
Dizendo que o sitio
Me vinha tomar.
Pedi a justiça com muito respeito,
Meu justo direito
Naquela questão,
Porém ao matuto sem letra e grosseiro,
Faltando dinheiro,
Ninguém dá razão.
Deixei minha terra, a querida Mombaça,
Que grande desgraça
Seu moço, eu sofri!
Deixei as belezas da terra adorada,
E triste e sem nada,
Cheguei por aqui.
Por causa de inveja, por esse motivo,
Doente hoje eu vivo
No seu Maranhão.
Sofrendo saudade, tormento e canseira,
Gemendo na esteira
Com febre e sezão.
Me resta somente a feliz sepultura,
E a vida futura
Que Nosso Senhor
Promete a quem sofre e padece inocente;
A vida presente
Para mim acabou.
Eu hoje devia viver sossegado,
No sitio arrendado,
No caro torrão:
Porém ao matuto sem letra e grosseiro,
Faltando o dinheiro,
Ninguém dá razão!”. (Citada por José Gonçalves em Porção Dobrada).

A narrativa de Patativa do Assaré é clara em mostrar que a felicidade daquele personagem incomodou, e muito, o dono da terra que, como o próprio texto diz, era invejoso, o que fez com que ele tomasse a terra que havia arrendado.
Fazendo uma comparação entre os dois textos, percebemos a semelhança entre as duas histórias, pois a felicidade dos dois personagens foi interpretada como barreira para o rei Acabe e para J. Veloso, que não mediram esforços para satisfazer seus sentimentos invejosos.
As duas histórias demonstram claramente atitudes de pessoas que não servem a Deus para com seus semelhantes, ou seja, acontecimentos fora da Igreja.
Como disse no início deste post, nós, como membros do Corpo de Cristo, possuímos uma missão específica de sermos sal da terra e luz do mundo, o que nos conduz a influenciar [positivamente] a sociedade e não o contrário. Mas, o que temos visto na prática é que estamos nos deixando influenciar por estes sentimentos comuns entre os que não servem a Deus.
Já está se tornando corriqueiro ver competições dentro da igreja. É competição entre os membros, em particular, entre os integrantes da banda, dos grupos de louvor, entre pregadores, entre alunos de escola dominical, entre ministérios e até dentro de um mesmo ministério e por aí vai.
É muito comum vermos competições unilaterais - por isso no início disse que não estamos falando de competição no sentido estrito da palavra - onde a pessoa que se deixou levar pelo sentimento de inveja passa a ter comportamentos impróprios contra seu irmão. E aí, a consequência lógica de tudo isso é este exército de pessoas feridas espiritualmente, em função de tais competições nas igrejas.
Quem não conhece ou pelo menos já ouviu falar de alguém que foi vítima dessas competições? Quantas pessoas estão desigrejadas atualmente por terem passado por esta trágica experiência? Quantas pessoas até se desviaram em função disso? São perguntas que nos fazem pensar...
Não podemos crer [verdadeiramente] em Deus e termos os mesmos padrões de conduta dos que não serve a Deus, ou cremos e somos transformados ou não cremos. Salutar é a recomendação de Romanos 12.2:

2 - Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. (Nova Versão Internacional. Negritei).

Se somos seguidores de Jesus não podemos nos comportar como os que estão nas trevas, devemos buscar uma vida de santidade, devemos nos dedicar a leitura da Palavra, devemos ter uma vida de oração, devemos saber lidar com nossas fraquezas, buscando forças em Deus. A inveja não traz nada de bom para nós e por isso devemos lutar para que este sentimento não domine a nossa vida.
Por fim, vale lembrar Provérbios 14.30:

30 - O coração em paz dá vida ao corpo,mas a inveja apodrece os ossos. (Nova Versão Internacional. Negritei).

Como está escrito em 2 Coríntios 4:13, parte b:

(...): Eu cri; por isso, é que falei. Também nós cremos; por isso, também falamos. (Almeida Revista e Atualizada, negritei).

Fiquem na Paz do Eterno.

Bibliografia Consultada:

GONÇALVES, José. Porção Dobrada: Uma análise bíblica, teológica e devocional sobre os ministérios proféticos de Elias e Eliseu. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico: Suplemento Bibiográfico dos Grandes Teólogos e Pensadores. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.

Bíblia de Estudo NVI. São Paulo: Editora Vida, 

Nenhum comentário:

Postar um comentário